Featured Story #8 | Karen Cesar

Talvez você já tenha lido ou ouvido em algum lugar que “lixo é um erro de design”, mas dificilmente conhece alguém que leva isso tão a sério quanto Karen Cesar, fundadora e CEO da RedBandana.

Karen tem trazido o conceito de design circular para discussões na ABEDESIGN, onde foi Diretora de Relações Institucionais e de Promoção nos últimos 4 anos, nos Desafios de Design da Braskem, onde é jurada, e até mesmo para o Festival de Publicidade de Cannes, onde Karen também foi jurada na categoria Design em 2019.

Na Featured Story de novembro, você confere nosso papo com essa mãe-designer-empreendedora-professora-jurada-líder sobre design circular, design de felicidade no trabalho, Cannes e muito mais.

Com vocês então, Karen Cesar, da RedBandana.

P: Karen, a bandana vermelha tem simbologias diferentes, de acordo com a cultura local. Qual é o significado de RedBandana pra você?

R: Há 22 anos, quando fundei a empresa e escolhi o nome RedBandana para a agência, pensei em dois caminhos, um racional e um emocional. Vamos com o racional, inspirada pela tradição oriental de usar a bandana, não necessariamente vermelha, para dar boa sorte ao enfrentar os concorrentes no tatame, a nossa, apaixonada, RedBandana nasceu para dar boa sorte aos nossos clientes na luta pelo mercado. Agora o emocional… ninguém é imune a uma RedBandana… além de peça de guarda-roupa versátil, tem em sua simbologia a atitude! O abraço a uma causa: para o bem e para o mal… A clássica imagem da mulher de “RedBandana” e a frase WE CAN DO IT marca o início da quebra das barreiras das mulheres na liderança. O “man in RedBandana” foi o soldado americano que perdeu a vida para salvar muitas outras no triste 11 de setembro, ataque ao World Trade Center. Em Chicago, gangues de se diferenciam pelas cores das bandanas. Roqueiros em seus shows ou simplesmente cachorros desfilando com bandanas no pescoço para mostrar personalidade… Somos designers, amamos branding e acreditamos que as marcas podem transformar o mundo, desde que tenham atitude e abracem genuinamente uma causa. A nossa RedBandana pode ajudá-las na transformação, sempre começando pela sua “gente” feliz trabalhando pelo mesmo propósito, a performance e os números são consequência, e eles surpreendem.

P: Seu trabalho à frente da RedBandana, entre outras coisas, te rendeu uma vaga no júri de Cannes neste ano. Como foi a experiência?

R: Foi uma grande surpresa ser escolhida como jurada… Um amigo designer que admiro muito, o Giovanni Vannucchi da Oz, me ligou, eu estava no meio de uma reunião como estava tudo corrido eu entendi que ele havia me indicado para ser jurada de um prêmio. Agradeci muito porque julgar qualquer prêmio é uma honra, mas o que eu não ouvi, em meio à correria é que era para julgar o Cannes Lions… Meses depois o Estadão, representante do prêmio no Brasil, me disse que eu seria jurada. Quase surtei!!!!!

Ser jurada da categoria mais transversal do Cannes Lions foi um grande aprendizado e uma grande responsabilidade. São mais de 1.500 peças inscritas em muitas subcategorias. Vão desde branding, passam por usabilidade, design de experiências de marca até design sustentável. Os 15 membros do Júri eram de áreas diferentes e de países diferentes o que garantiu uma das mais ricas experiências antropológicas que já vivi. O julgamento de cada peça era uma aula. Jurados com os seus múltiplos pontos de vista, baseados em experiências prévias de suas especialidades e riquíssimos em contextos culturais. Valeu muito mais do que qualquer MBA. Vale o destaque para o nosso Presidente do Júri, o Richard Ting — Global Chief Experience Officer da R/GA — que soube orquestrar e até domar muito bem aquele time de feras. Depois de 5 dias julgando horas a fio, no confinamento estilo Big Brother, os ânimos entram em “modo de sobrevivência” e é necessário pulso para manter o controle e a razão. Ganhei de presente uma experiência única, muita bagagem e amigos para sempre.

P: Em uma entrevista em Cannes, você disse que o júri olhava muito para o impacto que os trabalhos de design avaliados geravam no mundo. Fale mais sobre isso, por favor.

R: Sim, em todas as categorias o impacto é avaliado como 20% do total da nota de uma peça, mas o nosso júri este ano, depois de alinhar quem seriam os ganhadores dos metais (ouro, prata, bronze e GrandPrix) usou o conceito de “game changer” para o desempate. No shortlist, todas as peças são criativas, bem executadas e relevantes, então o critério para subir a régua foi este, impacto positivo com inovação. A mensagem que queríamos deixar para as marcas é que elas tem uma responsabilidade social muito grande. Se as organizações usarem o poder que têm, através do olhar holístico do design para transformação de negócios que gerem impacto positivo para a sociedade e para o mundo, elas colherão a longevidade das marcas e os números que procuram. Se tornarão à prova de futuro.

P: O design circular tem muito a ver com impacto social, ambiental e econômico, né? Fale um pouco mais do conceito e suas aplicações.

R: Sim o design circular é um excelente exemplo que explica o bias do júri de design colocado na resposta acima. Dentro do conceito de mundo VUCA, tudo muda muito rápido, a busca por resultados financeiros melhores acabou criando modelos de negócios que são insustentáveis a longo prazo, seja pelo próprio modelo de negócio, seja pela falta de aceitação do consumidor ou porque, em alguns anos, o mundo não comportará mais tanto para lixo, por muitos motivos… É preciso migrar para uma economia mais racional e sustentável a economia circular. Ela entende que a melhor abordagem de negócios possível é aquela mais sustentável que repensa a maneira de consumir, produzir e se relacionar… Pensa em um produto do Berço ao Berço. De onde ele nasce até aonde ele morre e o design é a área responsável por rever todo o ciclo… repensar em novas alternativas para oferecer os produtos, sendo mais consciente e economicamente rentável. Não é fazer “greenwashing”. É agir na base.

P: Na RedBandana vocês usam a metodologia LEGO® Serious Play. Como que funciona?

R: Como todos os resultados são entregues por pessoas e a RedBandana sempre teve como seu negócio principal o branding — a inteligência de marca, não pudemos deixar de evoluir com o mundo. Entendemos que o público interno das organizações, são hoje os maiores porta vozes daquela marca, se eles não estiverem felizes e alinhados com os objetivos da companhia, os níveis de performance caem. O Lego® Seriou Play é uma ferramenta baseada em neurociência, que alinha as pessoas para construção colaborativa de solução de problemas. Usa a estratégia em 3D o que facilita a visualização e o entendimento por todos, sobretudo a liderança. Permite um entendimento muito mais profundo dos desafios, dá ainda mais clareza para tomar decisões complexas. Tudo isso usando o storytelling como parte integrante da metodologia, o que faz com que o cérebro humano retenha melhor as informações compartilhadas nas dinâmicas.

P: E já aconteceu de alguma criança grande se perder na parte lúdica do LEGO® e esquecer do trabalho proposto??

R: É uma delícia!!!! As pessoas liberam as suas histórias e se surpreendem com as metáforas que criam… Brinquedo de gente grande que funciona. Uma das experiências mais fantásticas que tive foi facilitando a dinâmica para um grupo de médicos de alta gestão de saúde. Os mais céticos foram os mais inovadores quando se entregaram à metodologia.

P: Você veste diversos chapéus ao longo do seu dia. Qual deles é o seu preferido, e como você concilia todas suas atividades?

R: Gente… tenho que ser sincera… O que mais me orgulho é de ser mãe e aprender todos os dias a ser uma pessoa melhor para trazer o que há de melhor no meu menino. Acho que as ideias de querer multiplicar os índices de felicidade no trabalho, investir em design circular e minha paixão pelo design que coloca o ser humano no centro se fortaleceram muito depois que ele nasceu. É a missão de querer deixar um legado pelo exemplo. Conciliar tudo isso não é fácil… Mas acho que mulheres que trabalham sabem como é… o segredo é manter sempre todas as bolinhas no ar, sem perder o equilíbrio.

P: Última pergunta: pra você, o que é um design perfeito?

R: Um design perfeito é aquele que nasce para solucionar um problema humano ou para os humanos, que se preocupa com o fechamento do ciclo de produção, ou seja, com a circularidade, que una a funcionalidade, a usabilidade, a estética e a sustentabilidade e que mexa com a emoção das pessoas. Tudo isso sem perder sua força comercial.

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