Featured Story #12 | Indômita

Durante a década de 90 e início dos anos 2000, a MTV era provavelmente o veículo de comunicação que melhor conversava com os jovens no Brasil. VJs eram celebridades, a interatividade via chamada telefônica era vanguarda e os programas de humor eram referências.

De lá pra cá o mundo mudou bastante, as plataformas de comunicação mudaram e as redes sociais tomaram muito do espaço que a MTV ocupava. E a transformação que vimos nas últimas duas décadas deve acontecer de forma ainda mais acelerada nas próximas, seja impulsionada pela tecnologia, pela cultura e até pela pandemia do COVID-19.

E, se transformação é uma palavra que te assusta – ou te entusiasma – você precisa conhecer Fernanda Cardoso e Dindi Coelho, sócias na Indômita. Elas trabalharam na MTV, migraram para agências, atuaram fortemente no universo digital conforme os Facebooks, Snapchats e Instagrams da vida iam dominando o universo da comunicação e, desde 2015, decidiram por atuar de forma independente, se adaptando a múltiplos formatos de trabalho, processos e plataformas.

Na Featured Story deste mês, conversamos com a dupla sobre as constantes transformações que o mercado de comunicação exige dos profissionais da área.

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P: Fê e Dindi, se a gente olhar pro histórico de vocês, nota-se que as duas souberam evoluir e se adaptar conforme o mercado ia mudando. Essa percepção é correta?  

R: Com certeza, a gente passou por diferentes transformações ao longo desses anos. Teve uma época em que profissionais de conteúdo como nós começaram a migrar para publicidade, isso quando começou a se falar em branded content. A gente fez essa migração e entendemos que participamos ativamente de uma mudança grande em um mercado bastante engessado. Mas entendemos que antes disso a gente sempre esteve em empresas vanguardistas: na Trama quando criamos o download e o streaming remunerado, ou na MTV quando o canal passou a usar redes sociais em seus programas ao vivo. Isso sempre fez parte da gente. Mais do que nos adaptarmos às mudanças, entendo que fomos agentes ativas nela, até pelo nosso perfil curioso de sempre buscar múltiplas referências.

P: Transformação, ainda que em diferentes níveis, é desafiador pra qualquer pessoa. Como é isso pra vocês?

R: Como falamos um pouco na resposta anterior, somos bastante curiosas e também um pouco inquietas. Indômita é uma dupla de criação, e essa estrutura enxuta também é uma grande vantagem para a gente: como somos só nós duas, acabamos podendo testar mais coisas, tentar novos formatos de projeto e trabalho, e até nos arriscar mais mesmo. Sim, as transformações são desafiadoras, mas entendemos que elas são importantes para que a gente evolua. A gente atua em um mercado de comunicação que influencia diariamente várias pessoas, por isso é importante que a gente esteja aberto a aprender e fazer mudanças.

P: Pela experiência de vocês, quais foram as maiores mudanças que as redes (mídias) sociais trouxeram e o que se mantém inalterado na comunicação e no comportamento das pessoas?

R: Com certeza, uma mudança que a gente sente muito é a nossa relação com o tempo enquanto sociedade. Hoje as coisas são muito mais imediatas e há uma sensação de urgência. Todo mundo fala ao mesmo tempo, há uma quantidade grande de conteúdo sendo gerada a todo instante, e uma pressão para que você tenha mais relevância no meio disso tudo. Temos acesso a muito mais informação, mas também temos que ter mais cuidado no que acreditamos. O que se mantém inalterado, pra gente, é a vontade de identificação. As pessoas seguem buscando o que as representa, e mensagens que tenham a ver com a essência delas.

P: Vocês já trabalharam em agências, já trabalharam para agências, direto para clientes alocadas em agências e até direto para o cliente alocadas dentro da estrutura do cliente. Qual é o formato que vocês mais gostaram até hoje?

R: Mais do que o formato, a gente acredita muito na co-criação. Nós não somos uma dupla de criação tradicional (não somos uma redatora e uma diretora de arte), e achamos que cabeças pensando juntas, cada uma com sua expertise, sempre agregam. Nesse sentido, o melhor formato é aquele em que encontramos pessoas dispostas a fazer essa troca: isso já aconteceu direto com o cliente, com agência, e com produtora.

P:  A Indômita trabalha em rede, tendo vocês duas como o core da empresa, e uma série de profissionais do mercado que vocês alocam de acordo com a demanda. Qual é a vantagem em trabalhar neste modelo?

R: Uma das maiores vantagens, na nossa opinião, é poder trazer especialistas para cada tipo de demanda. Mais do que um formato e uma campanha, cada cliente tem uma especificidade, uma voz única e entendemos que os profissionais que conectamos podem fazer muita diferença nisso. Por exemplo, já trabalhamos chamando um acadêmico para nos ajudar em uma campanha que trazia um tema dentro de sua linha de pesquisa. Também já plugamos produtoras mais voltadas a formatos verticais para filmes em stories. Além disso, tem a questão do tempo de dedicação e agilidade de entrega: não gostamos de pegar muitos projetos simultaneamente, por isso, conseguimos nos dedicar bastante à eles.

P: Estamos vivendo uma crise de saúde global (COVID-19) que certamente terá impacto na economia e nas dinâmicas empresariais. Quais tendências vocês acham que vão se consolidar o que mais vai mudar na maneira das pessoas trabalharem?

R: Ubuntu, eu sou porque nós somos. Acreditamos que o entendimento de que precisamos pensar de forma mais coletiva, buscando o caminho da solidariedade, cooperação, respeito, acolhimento e generosidade, vão ser mais comuns do que antes. A gente estava transbordando como sociedade, abusando de recursos naturais e humanos, e acreditamos que esse não é mais um modelo sustentável. De um lado você tem famílias privilegiadas que estão tendo que se reinventar, descobrindo como limpar sua própria casa, cuidar dos seus filhos, fazer sua comida e trabalhar, tudo isso ao mesmo tempo, sem terceirizar essas atividades por valores inaceitáveis. Do outro você tem uma população extremamente vulnerável, lutando por saneamento básico, mas dessa vez, em função do COVID-19, tendo mais registros e visibilidade de sua situação. Muita coisa vai mudar, seja no trabalho ou nas relações interpessoais, e esperamos que seja para melhor. Precisamos valorizar mais as pessoas, o tempo, e entender que temos ferramentas para fazer a mudança.

P: Pra fechar nosso papo, de onde vem o nome Indômita?

R: A ideia do nome surgiu durante uma viagem pelo deserto do Chile.

Indômita significa: “Qualidade de indomada; não vencida; particularidade do que não se pode domar; indomável; selvagem. Relacionado a um lugar quase inexplorado e que ainda não sofreu intervenção humana.”

Durante parte das nossas trajetórias em agências, muitas vezes passamos por situações machistas, tendo que nos impor e sendo estereotipadas como briguentas, instáveis ou outros adjetivos nessa linha. Com o passar do tempo e o acúmulo de experiência fomos percebendo que parte dessas “ofensas” eram, na verdade, qualidades nossas, de sermos mulheres fortes e que se posicionavam. De sermos mulheres na mais profunda essência, esquecendo imposições físicas e sociais. Pra gente a palavra Indômita parecia traduzir muito de tudo isso.

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