Dia 1 de abril de 2020, 6h13 da manhã. Acordei com algumas ideias, abri meu laptop e comecei a escrever. Depois de algumas linhas rascunhadas e meia dúzia de e-mails respondidos, resolvi ir até a cozinha pegar uma xícara de café. Voltei pra cama, apoiei os travesseiros na parede, laptop no colo, café no aparador lateral e ali, ainda antes das 7h da manhã começava meu dia de trabalho.
Não, não é uma historinha de Dia da Mentira. E tampouco a glamorização do workaholic! Até porque, depois de alguns calls agendados para o período da manhã, provavelmente vou tirar um tempo pra fazer algum exercício físico ou simplesmente me dar o direito de ficar ensaiando riffs desafinados na minha guitarra. Ou, sendo mais realista, vou lavar a louça do jantar de ontem ou preparar o almoço.
É que simplesmente o lance de trabalhar de casa tem feito o trabalho ser mais fluido dentro do meu dia. Na BPool a gente sempre teve a liberdade de trabalhar de casa, de algum café, da praia…enfim… estar no escritório ou em casa nunca foi muito um corte seco entre estar trabalhando e não estar trabalhando.
Mas o confinamento forçado pela crise do COVID-19 tem feito o home office ter um novo significado e a dinâmica de trabalho ser revista e remodelada quase que diariamente.
Primeiro que, embora muitas empresas e profissionais autônomos já praticassem o home office há tempos, a realidade é que, pela primeira vez, o modelo está sendo adotado em escala por empresas de (quase) todos os setores. Não estamos falando daquelas multinacionais que implementaram o home office uma ou duas vezes por semanas. Estamos falando de MUITA gente tendo que se adaptar a trabalhar em casa por semanas seguidas, inclusive sem saber direito até quando.
Soma-se a isso o fato de que, além das atividades profissionais, as tarefas domésticas também estão na pauta. E, por mais que a gente leia e ouça recomendações de especialistas de tentar ao máximo reproduzir em casa a sua rotina de trabalho, o seu cachorro, gato e, principalmente, seus filhos, não ligam muito pra isso.
Quem não fez um call nas últimas semanas que não foi interrompido por uma criança pedindo atenção da mãe ou do pai? Ou que se ouvia o barulho de panelas ao fundo? Latido de um cachorro? Campainha da entrega da Rappi?
Não acho que estes elementos mundanos tornem as relações menos profissionais. Mas acho sim que as tornam mais pessoais. Mais próximas. Mais humanas. E isso é extremamente saudável porque nos possibilita exercitar a empatia. Não importa se a pessoa do outro lado da linha é um(a) estagiário(a), diretor(a), CEO ou dono(a) de alguma empresa: ela também vai ter que entreter os filhos, dar comida para o cachorro e passar aspirador de pó em casa no final do dia.
Ao adotar formatos mais flexíveis de trabalho a gente reforça a cultura de foco no resultado, e não na carga horária. Ao exercitar a empatia a gente fomenta as conexões humanas e fortalece vínculos. E quem ganha com isso? Nós ganhamos, nossas empresas ganham, o ecossistema de negócios ganha, nossas comunidades ganham.
E, quem sabe, quando passar o período de confinamento, mais gente resolva adotar – assim como incontáveis profissionais autônomos já fazem – este modelo de trabalho flexível. Porque, verdade seja dita, seu lado pessoal e o seu lado profissional fazem parte de uma mesma pessoa, né?
Davi Cury
Partner & Head of Operations
E tenho dito!
Belo texto, Cury.
Mas nada disso, meu caro Melo, invalida o poder dos HHs abrilhantados pela sua presença!
Reflexão muito boa, Davi!
Queria também entender qual sua opinião sobre o outro lado da equação: da importância de termos momentos no mesmo lugar físico com a equipe para moldar a cultura, gerar empatia entre as pessoas e forjar relações além do trabalho, principalmente em startups que estão iniciando essa construção.
Um grande abraço.
Fala, Allan. Sempre fui fã das interações e momentos de socialização no trabalho, exatamente porque acho que estes momentos nos dão a chance de conhecer mais as pessoas e, portanto, exercitar a empatia. Ou seja, todos os caminhos para a conexão humana são extremamente valiosos. Pra mim a diferença é que, quando temos as interações no trabalho, a gente meio que depende da outra pessoa estar aberta à conexão e o que sabemos dela, depende da narrativa que ela escolhe. No momento que estamos, a gente tá quase que entrando na casa das pessoas, mesmo que elas não tenha nos convidado pra entrar. =)
Adorei a matéria Davi.
Minha vida tá nessa pegada e está bem bacana! Tô ficando bom em lavar louças!! ahaha
O que importa no final das contas no trabalho é o resultado mesmo. E as pequenas interrupções das crianças, rappi, cachorros e etc, só torna a relação mais pessoal e alegre. Empatia é o caminho…
Entender e dar o tempo aos outros é um mega aprendizado e espero que continue na era pós quarentena.
Estou aproveitando a parte boa dessa loucura que estamos passando, estando mais próximo das minhas filhas, aproveitando cada momento, cada descoberta.
Agora é um ótimo momento para jobs de motion em gearl… Na Bistrô filmes estamos com equipe dividida em suas casas, cada um com sua estação de trabalho.
Jobs fluindo bem!
Abração e seu cuide.
Muito legal saber que mais gente se identifica com o momento. E que a vida profissional pode viver em harmonia com a pessoal! Forte abraço, Fe!
Muito bom! A quarentena me aproximou de algumas pessoas, inclusive… exatamente nestes momentos em que uma interrupção não prevista acontece… nos sentimos iguais… humanos… sem termos o controle de tudo. Algo que nos escritórios pode ficar escondido, pela figura do personagem corporativo.
100%! Aliás, personagem corporativo é um termo muito certeiro. Que a gente consiga usar menos máscaras e criar menos personagens depois de todo esse período de quarentena!