Featured Story #1 | Ruy e Renato

Se você é publicitário ou conhece alguma coisa deste mercado, certamente já ouviu os nomes Ruy Lindenberg Renato Loes. Monstros sagrados, colecionadores de campanhas icônicas e prêmios nas prateleiras, os dois são sócios na Mar Comunicações desde 2017 (agência que Renato fundou em 2015), mas se conhecem “de outros carnavais”. A Mar é uma agência parceira da BPool e, assim como nós, está animada com a possibilidade de introduzir um novo caminho para a indústria criativa!

Mas, se você não conhece muito sobre esses feras, não tem problema! Convidamos o Ruy Lindenberg pra entrevistar o Renato Loes, e o Renato Loes pra entrevistar o Ruy Lindenberg. Afinal, eles se conhecem tão bem, que ninguém além deles mesmos conduziria melhor essa conversa.

Essa é a primeira Featured Story BPool. A cada mês traremos na nossa newsletter um pouco mais sobre nossos parceiros criativos, e com um olhar bem menos jornalístico que o Meio & Mensagem ou PropMark, vamos explorar carreira, curiosidades e histórias que não são sempre contadas por ai.

Com vocês então, RUY LINDERBERG e RENATO LOES

P: Ruy, sei que você veio do Rio Grande do Sul onde morava com sua família, ainda bem jovem. Como foi esta a chegada na cidade grande e o que você acha que causou o maior impacto no seu aprendizado pessoal?

R: É verdade. Eu morei com minha família em São Paulo até os 8 anos de idade quando nos mudamos para o Rio Grande do Sul. Com 17 retornei a São Paulo para fazer faculdade e nesta época aluguei um quarto de uma família baiana que morava perto da FGV onde eu fui estudar. O dono da casa era alfaiate de profissão e nos finais de semana íamos ver os jogos do Corinthians, minha paixão desde sempre. O programa começava de manhã cedo num bar com a presença de vários amigos, primos e cunhados dele que também vieram de Feira de Santana. Ali se jogava muito dominó e conversa fora e fui apresentado ao tremoço, ovo colorido, buraco quente, pastel de angu muito antes destes aperitivos chegarem ao povo dos Jardins. A cada seis meses nos mudávamos no meio da noite para outro endereço porque meu amigo locador acabava bebendo o aluguel antecipado que meu pai mandava e ia recomeçar a vida e a freguesia em outra parte da cidade. Assim conheci em detalhe o Bexiga, Pinheiros, baixo Augusta etc. Esta experiência me fez conviver com pessoas muito diferentes das quais estava acostumado, entender outros costumes e classes sociais, de me virar em dificuldades. Se é verdade que a necessidade é a mãe da criatividade posso dizer que ali foi um bom início.

P: Minha vez de perguntar, Renato. Sempre que você pede um prato num restaurante, você quer saber como ele é feito, sugere acrescentar alguma coisa e tirar várias outras. De quem você herdou este talento para cozinhar?

R: De minha mãe, ótima cozinheira e com uma capacidade enorme de criar. Os mesmos pratos eram sempre preparados de forma diferente cada vez que eram servidos. Tem que ser assim; da mesma forma que a vida e os desafios sempre se apresentam de formas diferentes.

P: Bom, vamos falar um pouco de trabalho, Ruy? Você, como criativo, cria muitos trabalhos que são recusados. Sempre tentei entender como alguém com seu talento lida com isso. E no seu caso específico o que volta é sempre uma opção com a mesma qualidade criativa. Como é este processo?

R: Kkkkkkkk…….Tem profissões que flertam com a morte, como a dos motoboys, outras, com a renúncia, como é o caso de (muitos) padres. Já a minha atividade não é tão perigosa como a primeira nem tão sacrificada como a segunda, mas ela flerta com uma coisa muito desagradável: a recusa sem muita explicação. Ou melhor: a recusa sem uma boa explicação. “Não gostei”, “Não é isso o que eu tava esperando”, ”Minha mulher odiou”, etc. Nossa vingança aqui na Mar é voltar para a agência e dar duro para fazermos um trabalho ainda melhor do que o que foi recusado. Não quero que o cliente leve uma coisa que eu ache que seja pior do que foi apresentado anteriormente. Mas não é fácil. Um bom trabalho criativo não é apenas original, mas na maioria das vezes é também muito, muito simples. Por isso é tão difícil: simplicidade e originalidade quase nunca andam juntas. Simplicidade sem originalidade é banalidade. E originalidade sem simplicidade é apenas excentricidade.

P: Minha vez, Renato. E, ainda neste assunto de relação cliente-agência, que conselhos você daria para os clientes que buscam uma boa agência de comunicação?

R: Eles devem conhecer em profundidade os trabalhos feitos pela agência analisada (qualidade), entender para quem e para que mercados estes trabalhos foram desenvolvidos (processos) e conversar com as pessoas que desenvolveram estes trabalhos para descobrir o que podem demandar e esperar desta agência.

P: Como sempre aconteceu, temos sempre novos meios de comunicação sendo desenvolvidos, novos caminhos passam a ser importantes na busca de novas ideias e possibilidades criativas. Mas o mercado continua a falar em media on e off. Na sua opinião, será que isso não impede o entendimento do momento atual?

R: Renato, você tem toda razão. A diferença de on e off é antiga e não reflete o mundo atual. O consumidor hoje tem um celular no bolso pelo qual ele pagou menos de R$ 50 por mês, e enquanto viaja de metro ele acessa os amigos no Facebook e ainda assiste a TV Minuto no vagão. Ele participa do Big Brother recebendo conteúdo exclusivo do reality e usa seu aparelho como segunda tela enquanto acompanha a Champions League ou segue uma nova série no streaming. A verdade é que a tecnologia está evoluindo mais rapidamente do que a nossa capacidade de se adaptar, de tirar o melhor dela

Por isso precisamos ter competência para estudá-la, entendê-la e experimentá-la. Para quem como eu começou criando apenas para TV, rádio, outdoor, revista e jornal, as mídias tão diversificadas de hoje representam um terreno muito excitante para se trabalhar.

A tarefa ficou mais complexa, mas também mais interessante. As agências, os clientes e os consumidores estão vivendo este novo mundo de experimentação.

A tarefa ficou mais complexa, mas também mais interessante. As agências, os clientes e os consumidores estão vivendo este novo mundo de experimentação.

O problema que vejo é não nos entusiasmarmos demais com as ferramentas e deixar que elas decidam o nosso destino se sobrepondo ao controle, a experiência e ao bom senso do piloto. Aqui na Mar Comunicação estamos muito atentos a isso para que nós dominemos a tecnologia e não o contrário, para evitar acidentes de percurso. Infelizmente parece que é isso o que está acontecendo com o Boeing 737 MAX, não é mesmo?

P: Agora, Renato, você passou praticamente toda vida profissional em grandes agências, tendo sido inclusive Presidente da Leo Burnett e da Dentsu. Como se sente hoje como empresário de uma agência tão menor como a Mar Comunicação?

R: Ter trabalhado naquelas multinacionais foi o que me formou e manteve meu amor por nosso trabalho. O trabalho numa agência como a Mar demanda o mesmo amor pela profissão, porém gera também a possibilidade de inovação, de ter poder para buscar novas soluções para novas situações que se apresentam a toda hora. É uma possibilidade também de nos aproximarmos de anunciantes que buscam mais proximidade, novas relações de trabalho com suas agências e seus lideres.

P: E, falando nisso, Ruy, nesse novo contexto, com o mercado buscando e precisando de novas alternativas, como você enxerga a BPool?

R: Quando conheci o conceito da BPool, achei sensacional. Na minha opinião a forma usual de se fazer concorrência hoje em dia tem sido pouco produtiva tanto para os clientes como para as agências. Não acredito que uma concorrência possa se basear simplesmente numa estimativa de preço palatável e algumas ideias interessantes, seja de criação, de mídia, de planejamento, o que for. Acho que a escolha de uma agência deve ser a busca por um grupo de profissionais que possa percorrer com o anunciante um caminho desconhecido, um caminho onde será necessário competência, ousadia e acima de tudo, confiança mútua. Além de talento, é claro. E este tem que estar dos dois lados da mesa. Talento na agência, mas também no cliente, para tirar da agência o melhor através do seu conhecimento de produto, de mercado, definindo objetivos claros e oferecendo diálogo e cumplicidade. Tenho visto muitos casamentos infelizes no mercado publicitário e os filhos que eles geram e assistimos nas redes sociais, nos canais de TV, nas paginas de jornais e revistas com certeza não devem dar muito orgulho nem para a agência que os criou nem com o cliente que os aprovou.

Espero que a BPool seja um endereço de encontros profissionais capaz de dar origem a uniões felizes entre agências e anunciantes e que possam gerar filhos maravilhosos.

P: E você, Renato. Qual é sua opinião sobre a BPool?

R: A prestação de serviços, especialmente na nossa área de atuação, sofre muito pela falta de avaliações reais, concretas.Talvez pelo fato de atuarmos com emoções e comportamentos, os anunciantes, ao buscarem uma agência, têm uma grande dificuldade em separar o joio do trigo.A proposta de B Pool busca sanar esta dificuldade dos anunciantes que causam, muitas vezes, inúmeros prejuízos financeiros e emocionais. A ideia de uma seleção baseada na real “entrega” que as agências já fazem no mercado, a limitação do número de agências no processo de seleção e uma remuneração mínima às agências participantes geram um maior compromisso por parte tanto dos anunciantes como das agências com o processo. E o feeback formal, após o processo, também pode enriquecer esta experiência. Temos confiança no processo proposto pela BPool e nossa agência Mar.

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