Alessandro Cauduro, CEO da Huia e CIO da Haus (Grupo Stefanini), escreveu sobre tendências de comércio que ele tem observado pelo mundo, e como o Brasil tem dado os primeiros passos. Confira abaixo!
A nossa hora ia chegar, claro. Mas devagarzinho. Nós, brasileiros, estávamos nos adaptando ao e-commerce, aderindo ao marketplace, embarcando nas plataformas de streaming. Aí, veio a pandemia, que acelerou exponencialmente a adoção de novas tecnologias pelas empresas no Brasil. Entre aderir ou quebrar, elas se viram obrigadas a impulsionar a transformação digital e até a testar novos modelos de trabalho.
Assim como as empresas, as pessoas também tiveram que se adaptar. Agora isoladas em casa, começaram a consumir cada vez mais conteúdo digital tanto para entretenimento quanto para compras.
Para continuar próximas dos clientes, as empresas apostaram nos eventos online em transmissões ao vivo, incorporadas no nosso linguajar como lives. O brasileiro, um ser social por natureza, aderiu rapidamente ao novo formato de conteúdo. E agora não faltam lives, de sertanejo a MPB, para todos os gostos. E por que não unir o útil ao agradável? Entretenimento e vendas? Essa já era uma antiga promessa da TV interativa que nunca se materializou; mas agora chegamos em um ponto tecnológico que essa experiência e nossos comportamentos estão prontos.
O novo comportamento que começou no mercado Chinês
Já em 2016, surgiu na China um novo formato de vendas: o Live Commerce, que une transmissões ao vivo com vendas. Hoje, é dominado pelo TaoBao (uma plataforma similar ao Mercado Livre e que pertence ao gigante Alibaba) e permite que qualquer vendedor da plataforma faça o seu livestream. Ou seja, não é limitado às grandes marcas mas também está virando um grande negócio para elas. Para se ter uma ideia, no Singles Day de 2019 que é o dia de maior vendas na China, o Tao Bao Live (o braço de live commerce do Tao Bao) faturou US$ 2,85 bilhões, o que representou 7,85% de todas vendas da plataforma neste dia. Neste ano, este percentual promete ser maior ainda.
Principais diferenças do Live Commerce e E-commerce tradicional
A grande inovação do Live Commerce é o seu engajamento com a sua audiência, pois diferentemente de um e-commerce tradicional, mais próximo de ler um catálogo online, neste novo formato o consumidor participa da experiência.
Quem olhar em passant, pode achar que o Live Commerce é apenas um canal de vendas na internet, como aqueles que a gente vê zapeando alguns canais da tv brasileira. Mas é muito mais do que isso.
Em algumas transmissões, podemos usar o termo Content Commerce, pois além da compra há também entretenimento. Temos um host apresentando os produtos, experimentando e interagindo com a sua audiência, que manda mensagens por meio do chat. As pessoas fazem parte e se sentem parte de todo processo e a fricção entre o conteúdo e a compra é eliminada.
A Cauda Longa das vendas online
A venda ao vivo se tornou democrática e acessível a todos pela plataforma TaoBao Live e seus concorrentes. Com isso, podemos encontrar desde grandes marcas como a L’Oreal que fez mais de 600 horas de streaming no Singles Day’19 e tem desde a Kim Kardashian como uma das influenciadoras a um pescador anônimo anunciando seus peixes frescos ao vivo. Na maioria dos casos, a produção dos livestreams é simples: um smartphone e um apresentador, sem grandes investimentos de produção.
Os novos influenciadores das vendas ao vivo
O novo formato abriu um leque de oportunidades para os influenciadores digitais conseguirem gerar vendas para a sua base de fãs. Na China, onde essa tendência já começou faz tempo e os números são sempre exorbitantes em relação a nossa realidade, já existe uma superstar do segmento: Huang Wei, também conhecida como Viya, que tem 34 anos e é seguida por milhões de pessoas que não querem perder suas dicas e ofertas. Ela faz streams quase que diariamente e recentemente a audiência atingiu 37 milhões de pessoas em um mês.
O mercado global está acompanhando esse fenômeno e muitas startups já surgiram no mercado americano para tentar replicar esse sucesso. Entre os players entrantes, temos o Google que lançou em julho o app Shoploop , que permite que os influenciadores façam vendas via vídeos curtos. Ainda não é ao vivo, mas logo que tiver audiência suficiente, podemos ter certeza que será também.
O Brasil dá seus primeiros passos
No Brasil é questão de tempo até que os brasileiros fiquem vidrados neste novo formato. Live streaming já é parte da vida do brasileiro: assistindo futebol no Youtube, acompanhando lives no Instagram, vendo jogos online no Twitch e isso tudo acontecendo principalmente no celular.
Por aqui, as Americanas deram a largada com as live commerce dentro do seu aplicativo, em formato de review. Com a curadoria da influencer Camila Coutinho, as lives trazem descontos exclusivos e conteúdo temático – make, esportes, culinária, tecnologia… A varejista Riachuelo apostou nos shows de Simone e Simaria e Mumuzinho no Dia dos Pais para as live commerce, no site e no YouTube, liberando cupons de desconto. A Dengo, criou a sua loja de chocolates que fica ao vivo todas as tardes para os consumidores visitarem e interagirem com os atendentes.
A estratégia de unir conteúdo às compras, ou content commerce, torna a venda uma experiência – e não uma mera operação de e-commerce. Por aqui, no ecossistema Haus, juntamos nossas expertises (estratégia digital, negócios, conteúdo e tecnologia) para ajudar as marcas a darem seus primeiros passos: desenvolvemos uma plataforma chamada de A Live, desenvolvida pensando numa experiência mobile sem precisar de um app e que pode ser plugada em um canal de e-commerce existente (VTEX, Linx, Magento, Shopify, etc..).
Se você ainda tem alguma dúvida da popularização, basta ligar a TV. O formato que une conteúdo às vendas é uma tendência tão forte que chegou no formato mais mainstream possível – a TV aberta – e até ganhou um novo nome. A Globo vem experimentando o formato T-Commerce em alguns programas como o É de Casa. Itens do cenário estavam disponíveis para compra no e-commerce da Casas Bahia por meio de um QRCode na tela.
E esse é só o começo: a Black Friday, uma data digital por natureza para o varejo, deve ganhar uma nova camada com a proliferação das live commerce no Brasil. E a sua marca? Vai entrar ao vivo ou morrer na praia?
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