Muitos dizem que sociedade é como um casamento, e realmente é possível traçar vários paralelos entre os dois tipos de relacionamento. Objetivos em comum, capacidade de resolver conflitos e conciliar as diferenças são alguns dos pontos que mantém tanto a sociedade em uma empresa quanto um casamento forte e saudável.
Teresa e Alexandre Grynberg conhecem bem o tema. Sócios desde 2017 no Estúdio Colírio (fundado por Teresa em 2004), o casal compartilha, além do amor um pelo outro, o amor pelo design, branding e comunicação.
Na Featured Story deste mês o casal fala dos desafios e vantagens de empreender com seu cônjuge, sobre a importância do design e o futuro do mercado de comunicação.
P: Teresa e Alexandre, quais são as principais vantagens e os maiores desafios de empreender em casal?
ALEXANDRE: Olha, vantagens, no nosso caso, acho que é a complementariedade: somos de áreas que precisam uma da outra. A Teresa com toda a parte estratégica e criativa na bagagem e eu, com a área comercial, novos negócios, institucional e administrativa. Então o ponto de trabalharmos juntos sempre foi uma conversa em casa. Como as nossas vidas profissionais estavam andando, durante muito tempo era um assunto que “namorávamos”, mas nunca efetivamos por medo mesmo…eu acho…Sabe aquela coisa de “não mexer em time que está ganhando?” Rsrs! Outro ponto importantíssimo é o respeito e a admiração que sempre tivemos um pelo outro, claro que além da pessoal, a profissional. Teresa é uma baita criativa, completa, estratégica. Trabalhei com vários criativos na minha carreira, pouquíssimos conseguem unir visão de negócios, estratégia de longo prazo e criação outsdanding! Teresa consegue! Além disso, quando eu entrei como sócio na Colírio, mesmo sem função executiva, já começamos uma troca estratégica da empresa: para onde ir, como ir, com quem ir…ali nasceu a semente de juntarmos de vez. Foi um começo, uma forma de entrar, sem entrar…
TERESA: Sempre trocamos muito sobre comunicação, design, arquitetura…São paixões nossas desde que nos conhecemos. Consumimos arte, literatura, cinema, etc, então as referencias sempre estavam à nossa volta. Brincamos que nossos hobbies são nosso trabalho. Isso facilita bastante, falamos a mesma língua. O Ale tem um olhar comercial que faltava na Colírio. Crescemos nestes últimos 17 anos de forma bem orgânica, na indicação dos clientes que vinham e voltavam e no boca a boca, sem auto promoção ou assessoria de imprensa. Acho que chega uma hora que é bom por a cara um pouco mais para fora também. Para fazer isso, ninguém melhor que o Ale. Desafios? Vários! Um deles, por exemplo, é nosso combinado de ter a hora para parar de falar de trabalho, é um baita desafio! Precisamos lembrar que em casa tem os filhos, a casa, o cachorro, a vida…Nem tudo é a Colírio! Rsrsrs!
P: Antes de fundar o Estúdio Colírio, Teresa atuou como designer e diretora de arte de grandes agências, e Alexandre fez carreira como líder de negócios, tanto em agência quanto em veículos de mídia. A trajetória de cada um ajuda a designar atribuições e definir papéis, ou essas definições não são tão simples assim?
AMBOS: São sim, bem simples. Como falamos, a vantagem de ter os papéis claros evita muitos dos atritos. Temos funções e responsabilidades definidas, e claro, complementares. As equipes também são distintas e definimos sempre juntos qualquer coisa que vá influenciar a todos os times ou a Colírio institucionalmente.
Claro que acontecem “fricções”, mas como os papeis são claros, procuramos sempre entender para qual lado aquela questão pende mais, aí, o responsável assume. E quando brigamos, brigamos de portas fechadas! Saindo da sala, os dois sempre precisam estar alinhados.
P: O Estúdio Colírio fala bastante sobre “o olhar”. Falem um pouco sobra o que é esse “olhar”, como exercitá-lo e como ele é fundamental no processo de design?
TERESA: Desde que montei a Colírio, até mesmo antes, na minha vida profissional em outros estúdios e agências, sempre me incomodou um olhar único, a análise sobre qualquer problema de comunicação a partir de um único ponto de vista. As referências estão cada vez mais iguais, no mundo todo. Criativos acabam bebendo das mesmas fontes. É difícil entregar comunicação nova se as suas referências são sempre as mesmas. Comecei a juntar “olhares” diferentes. Por que não criar com arquitetos, artistas plásticos, psicólogos? Olhares diferentes, de universos diferentes, tendem a formar novos olhares. A Colírio nasceu assim e é assim até hoje. As entregas sempre englobam muitos pontos de vista: da estética, da usabilidade, da forma, do conteúdo, da estratégia, da aplicação prática, etc. Assim, nossa metodologia passou a fazer muito sentido qualquer que fosse a “dor” dos nossos clientes.
P: Como vocês enxergam o momento do design, seja na comunicação, seja em bens de consumo?
ALEXANDRE: O momento é ótimo. Nos últimos anos, com todos as empresas adotando o Design Thinking como parte dos processos, ficou mais fácil entenderem como trabalhamos – afinal é o que fazemos há muitos anos. O design não é mais entendido como uma ferramenta simplesmente estética, hoje ele é processo, ele tem papel em toda cadeia produtiva e de desenvolvimento de novos produtos ou soluções. O design service (UX/UI), por exemplo, é imprescindível no mundo das tech companies ou dos apps, enfim, estamos num momento muito bom para ser designer.
TERESA: É muito gratificante ver esse movimento. O design como atitude. Parece que de uma hora para outra tudo o que defendemos virou realidade, que bom! Acreditamos que o design, como processo de solução de problemas, tem a capacidade de resolver qualquer questão. Seja a identidade de uma marca ou produto, seja a questão do abastecimento de água numa região de seca. O design como forma de solução não tem limites. Acreditamos tanto nessa força que começamos um movimento na Colírio há 5 anos atrás chamado ColírioGood.
P: O que é ColírioGood, já ia perguntar isso a vocês… Como ela funciona na prática e no dia a dia do Estúdio Colírio?
TERESA: ColírioGood é uma iniciativa nossa para trabalharmos com empreendedores sociais, ONGs, Fundações e Institutos. Nós acreditamos que o design tem a capacidade de transformação, não importa o tamanho. Seja numa pequena comunidade ou numa cidade inteira. Através desta inciativa, já desenvolvemos N projetos de vários tamanhos: criamos marcas para ações que envolvem o ecossistema da alimentação saudável e os pequenos agricultores; já ajudamos os vendedores ambulantes do Parque do Ibirapuera a manterem os seus carrinhos por lá; já fizemos livros para grandes empresas que, quando vendidos, ajudaram ONGs; já transformamos a identidade e a arquitetura de marca de instituições importantes do terceiro setor; já criamos estratégias e posicionamento de marcas para empreendedores sociais; entre muitas outras entregas.
Queremos mais! Isso faz parte do nosso propósito como empresa e como pessoas. É a nossa forma de contribuir com o que sabemos fazer para um mundo melhor.
P: Qual é o papel do design nas nossas vidas, sobretudo num mundo cada vez mais volátil e imprevisível?
ALEXANDRE: Como a Teresa já disse aqui, design é uma atitude. Ele não só nos ajuda a nos relacionarmos melhor com os produtos e marcas, mas também facilita processos, economiza custos, ataca as dores de determinados mercados que não existiam até outro dia. Facilita, ajuda, entrega e conecta pessoas, empresas e marcas.
P: Na economia da atenção, como uma marca pode se tornar e/ou se manter relevante? É necessário entrar na disputa pela atenção da audiência ou há outras formas de se fazer lembrada?
TERESA: As estratégias de comunicação das marcas hoje não podem mais prescindir de nenhuma ferramenta, não acreditamos mais em UM remédio que cura todas as dores, é preciso um combinado de soluções para atacar um combinado de problemas. Ganhar a atenção hoje é muito difícil para qualquer marca, não basta mais estar no lugar certo, na hora certa. É preciso além disso ter os produtos certos, para os públicos certos, com desenhos, embalagens, identidades, comunicações certas e, acima de tudo, muita verdade. É muito mais difícil do que era no começo da Colírio, por outro lado, é muito mais instigante para quem gosta de desafios, já que as possibilidades estão infinitas. A tecnologia nos ajuda e nos permite fazer coisas impensadas a pouco tempo atrás. É a melhor hora do mundo para quem é criativo e quer se sentir desafiado.