2020 tem sido um ano bastante atípico e particularmente desafiador para qualquer empreendedor. Imagina então se 2020 for o primeiro ano de operação da sua empresa? Bem, dizem que mar calmo nunca fez bons marinheiros, né?
Toni Fernandes, Leonardo Claret, Saulo Sanchez e Ricardo Forli sabem disso, mas estão curtindo cada minuto desse mar agitado. Ou melhor, dessa selva agitada. Os quatro, que até 2019 faziam parte da liderança de uma das principais agências do Brasil, fundaram a Monkey-land para ser um estúdio criativo horizontal, ágil e sem amarras com os modelos tradicionais.
Na Featured Story deste mês, conversamos com o quarteto sobre as dores e os prazeres de empreender depois fazer carreira em grandes agências.
P: Senhores, quando vocês planejaram abrir a Monkey-land, certamente enfrentar uma pandemia não estava no business plan, né? Como tem sido os primeiros passos da agência no mercado perante esse contexto maluco?
R: A decisão de abrir um estúdio criativo e não optar por continuar nossas carreiras dentro de uma rede ou grande agência de comunicação nasceu de nossos anseios e reflexões diante dos modelos de operação existentes e sobretudo, como proteger a criação, a ideia, para que ela não se perca na burocracia interna. Em paralelo, as coisas mudaram muito, novos jeitos de comunicar, operar e também novas empresas surgem com mentalidades e negócios totalmente diferentes. Isso já acontecia. Com a pandemia, olhando apenas para a questão do nosso mercado de comunicação, parece que tudo foi colocado em xeque pelos grandes clientes. Verbas, estruturas gigantescas, processos lentos e burocráticos das agências. Reflexões parecidas com as nossas antes da pandemia, a diferença é que agora, durante a pandemia é o cliente que reflete e busca novas opções. Está sendo um momento ímpar historicamente e grandes mudanças criam novas oportunidades. É preciso ser pequeno e ágil.
Começamos Monkey-land em janeiro de 2020. Nosso plano era apresentar a Monkey apenas para os clientes amigos, de janeiro a março para testar nosso modelo; focado em criatividade livre, não vinculada a mídia.
Tivemos uma recepção muito boa do nosso modelo. Logo nos primeiros meses do ano, antes da pandemia, fomos escolhidos pelo Grupo Pag! para lançar o seu Banco Digital. Depois, fomos contratados para fazer um projeto para Havaianas Internacional. Além disso, antes do mundo parar, fomos chamados para pensar o branding e o lançamento de um aplicativo para experimentar roupas on-line: Doris. Já durante a pandemia, fizemos o Projeto “Abra a Gaveta. Doe” para o Instituto Península e Parceiros da Educação. Uma iniciativa linda para arrecadar tablets, notebooks e smartphones para os alunos da rede pública. E agora, estamos trabalhando em uma campanha para marca Bonafont da Danone, projetos para Ninho, dá Nestlé, cerveja St. Patrick’s, Omo, Clear, do grupo XP e o Corinthians.
P: Até 2019 vocês trabalhavam juntos em uma das principais e mais premiadas agências do Brasil, a F/Nazca. Hoje são sócios na Monkey-land. Falem um pouco das diferenças entre fazer parte do time de liderança de uma grande agência e tocar o seu próprio negócio.
R: Na F/Nazca S&S aprendemos que o core é a ideia. E também o craft elevado ao máximo de tudo que era criado. Éramos a liderança na agência, mas um tipo de liderança que nunca deixou de criar ou estar à frente das decisões. Nunca abandonamos a cozinha.
Gostaríamos de continuar a ser felizes criando, mas ao mesmo tempo surgiu a necessidade de novas aventuras, descobrir coisas. Temos idades e experiências profissionais parecidas. A única opção que chegamos foi pegar um “atalho” abrindo o próprio negócio. Depois veio um frio na barriga e por fim, a coragem. Aqui estamos. Tocar o próprio negócio é fazer mais coisas que o de costume de nossas antigas e respectivas funções. É tomar mais decisões, tomar decisões que nunca tomamos antes, é trabalhar muito mais, sair totalmente da zona de conforto. Com o detalhe de sair da zona de conforto durante uma pandemia. Cada dia é um sentimento diferente que acontece, mas tem sido incrível.
Para proteger a ideia e continuar criando, decidimos eliminar o modelo onde o BV é a principal remuneração. Eliminamos a mídia do core do nosso negócio. Quando necessário, temos um acordo operacional com a F.biz que faz o planejamento e compra de mídia para nossos clientes. Aliás, admiramos muito a coragem da F.biz em abraçar um novo modelo conosco. Nossa parceria a cada dia fica melhor.
Tiramos também as reuniões com 18 pessoas na sala (ou do hangout). Queremos sempre pouca gente com muita profundidade do nosso lado. E por fim, criamos um ecossistema criativo, um grupo de pessoas e empresas que admiramos para trabalhar conosco nos projetos.
Ou seja, como donos do nosso negócio, temos mais autonomia, não vivemos na pressão do quarter, o que nos permite maior flexibilidade e agilidade. Por exemplo, temos até acordo de remuneração baseado em fee+equity, algo impossível para grandes grupos. Queremos ser cada dia mais sócios dos nossos clientes e mais livres para fazer trabalhos relevantes e criativos.
P: Vocês todos tem passagens por grandes agências como Lew’Lara/TBWA, AlmapBBDO, DM9DDB, Y&R, McCann, entre outras. O que dessas agências vocês trazem pra Monkey e que preferem fazer diferente?
R: Nosso histórico profissional, nos credencia a ter a oportunidade de trabalhar em projetos com grandes marcas na Monkey. Um dos nossos clientes nos definiu assim: vocês têm toda a experiência e a capacidade das grandes agências, só que mais ágeis, flexíveis e logo, com custos mais enxutos. Não amamos grandes estruturas, amamos grandes trabalhos. Para isso, basta ter ao nosso lado grandes profissionais e muita vontade de fazer algo diferente.
Voltamos a origem da profissão, nosso foco é apenas no trabalho. Não há politicagens, reports para gringos ou regras para remuneração de quem a gente contrata. Não há contas alinhadas, apenas contas que escolhemos atender.
Somos gratos aos nossos antigos empregadores e muito felizes com nosso presente.
P: Quais são os principais desafios que vocês enxergam para a Monkey-land nos próximos meses ou anos?
R: As dores do crescimento são reais. Como crescer, manter a qualidade, montar nossa cultura e escolher bem nosso time. Nosso maior desafio é crescer sem perder de vista o que nos levou a abrir nosso negócio, a paixão por criação. Diria até que é evoluir e arredondar nosso modelo de trabalho, definir ainda mais nosso jeito e personalidade. O que não necessariamente é ficar grande. Os nãos que demos até aqui nos definem melhor do que os sim, testa nossos valores e mantém nosso foco.
P: E quais são as vantagens de operar um estúdio vertical e enxuto?
R: Quem tem custo tem medo. Quem tem medo não é criativo. Nós temos custos baixos, montamos times sob medida para resolver problemas específicos. Por exemplo, para Ninho, temos um time inteiro de pais e mães. Esta flexibilidade faz muita diferença. Outro fator que muda muito é não ter intermediários, os donos, os criativos estão no briefing. Se envolvem diretamente. Nosso nível de refação é muito baixo e estamos seguros que nosso envolvimento direto é uma das principais razões. Somos próximo de todo o processo e dos clientes.
P: Vocês acabaram de lançar a campanha de 110 anos do Corinthians. Sei que tem corinthianos na Monkey, mas nem todos são, né? Como criar para algo tão passional quanto o futebol se você não torce para aquele time?
R: Toni e Saulo são Corinthianos, Forli se tornou durante a campanha e o Léo não curte futebol, mas virou Corinthiano pelo prazer de ver a criação se realizar. Já fizemos outros trabalhos para o Corinthians e toda vez é uma emoção muito grande unir duas paixões, a propaganda e o Corinthianismo. Nessa campanha tivemos alegrias incríveis, falar com o Basílio, nosso pé de anjo, Rivellino, Washington Olivetto, ver a emoção da filha do Zé Maria com a homenagem, aprender com o Celso Unzelte, homenagear a história do time do povo. Vamos lembrar pra sempre desses momentos e campanha só começou.
P: Última pergunta, de onde vem o nome do estúdio?
R: Monkey é sobre um novo ponto de partida, um reset. É a retomada do essencial ao nosso negócio, o fundamental, a origem, o primitivo do criativo: a boa ideia. Sem ela tudo depois perde o sentido de existir. Hoje, nada permanece parado por muito tempo com novas mídias e outros milhões de jeitos de comunicar e trabalhar. Tudo muda o tempo todo, por isso, somos todos macacos. É sempre um aprendizado, de certa forma, um recomeço a cada mudança. Queremos passear também por outras disciplinas criativas, não necessariamente publicidade, ser mais livres, menos formatados e mais bicho criativo. O -land é a parte colaborativa, são os parceiros e criativos que colaboram para tudo acontecer e são plugados de acordo com a demanda e escopo do trabalho.
Esses caras vão longe. Sou fã do quarteto!
Sempre na torcida por Saulo, Forli, Leo e Toni.
Aliás…pra não perder o costume: olha a zarabatana! (inside joke)
Parabéns galera!
Baita quarteto de peso, né? A BPool tá muito contente com a parceria com a Monkey-land!