No final de maio deste ano, 2021, a BPool lançou, em parceria com a DZ Estúdio, o report Boomboutique. O material, rico em insights e perspectivas, foi o resultado de horas e horas de conversas com líderes de boutiques de comunicação e executivos e executivas de grandes empresas de vários setores.
Distribuído em cerca de 90 slides, o report trouxe à tona uma série de temas relacionados à fragmentação do mercado de comunicação, bem como os benefícios e os desafios que esse fenômeno apresenta. Entendemos causas, consequências e, principalmente motivações que fazem das boutiques de comunicação não apenas uma tendência, mas uma realidade vibrante.
Mas a verdade é que não podemos encarar o Boomboutique como um manual de algo imutável. Ao contrário! Ele é o primeiro passo de uma investigação contínua que vai nos ajudar a evoluir conforme o mercado se transforma.
Arranhamos a superfície, mas ainda há muitos temas a serem aprofundados.
Vemos no nosso dia a dia, por exemplo, que a prática de pitch (concorrência) que era outrora praticamente regra no mercado, hoje já levanta algumas sobrancelhas. Não me entendam mal, concorrências seguem acontecendo e elas, muitas vezes, têm sim razão para existir. Mas, cada vez mais, vemos agências recusando convites para concorrências não pagas.
Por um lado, tem a questão filosófica/conceitual (“não me peça para dar de graça a única coisa que tenho para vender”), e muitas boutiques realmente têm uma filosofia diferente de prospecção e new business. Entendem que há outras maneiras de comprovar sua capacidade e que trabalhar por projetos é uma excelente maneira de fazer um “test-drive” antes de se comprometer com relacionamentos mais longos.
Muitas vezes uma boa conversa olho no olho entre interlocutores seniores funciona até melhor do que um pitch criativo. Isso porque cada vez mais as boutiques entendem os clientes como um parceiro de negócio, e não apenas um mero contratante. Discutir histórico da categoria, visão de futuro, natureza dos desafios e metodologias são algumas das formas de desenvolver um trabalho colaborativo que coloca todos no mesmo barco com o mesmo nivel de accountability e quebra a lógica cliente e fornecedor.
Por outro lado, existe uma questão prática mesmo: tamanho das equipes. Boutiques são mais enxutas e geralmente têm o time sênior tocando os trabalhos e interagindo com os clientes. Ou seja, se o time está com a mão na massa, a única maneira de participar de concorrências é contratando freelas. E aí a conta não fecha se o processo de concorrência não for remunerado.
Mas, e os clientes? O que pensam disso e o que discutem a respeito?
Equipes enxutas, aliás, fazem com que as boutiques trabalhem de formas diferentes buscando maior eficiência e as metodologias encontradas são diversas. Muitas são inspiradas em modelos clássicos de gestão de projetos, outras são proprietárias, desenhadas sob medida para o funcionamento específico daquele time, mas o fato é que agilidade e qualidade são palavras-chave no dia a dia de uma boutique.
Mas, se existe uma palavra que parece estar intimamente relacionada às boutiques de comunicação é o bom e velho propósito. “Ah, mas toda empresa tem um propósito”, muitos poderiam argumentar. Sim, eu diria que a grande maioria nasce sim com uma ideia de transformação que vai além de fazer dinheiro, mas muitas vezes o crescimento provoca uma perda de foco ou direção.
Já as boutiques se mantêm enxutas para sempre conseguir ter o olho na sua razão de existir. Ou será que é exatamente a sua razão de existir que as mantem enxutas?
E, de novo: e os clientes? O que pensam disso? A razão de existir de uma boutique realmente importa na hora da contratação?
Bom, como vemos, a primeira edição do Boomboutique nos mostrou a ponta do iceberg. Só mergulhando mesmo pra saber o tamanho do iceberg todos. E estamos cheios de vontade pra fazer isso!
Davi Cury
Partner & Head of Operations
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