Gabriel Besnos, sócio-diretor da Bistrô, agência especializada em diversidade, argumenta que é hora de parar de olhar para o tema com uma visão assistencial: “investir em diversidade é uma decisão de gestão que costuma premiar as empresas que o fazem com possibilidades maiores de sucesso”.
Organizações vivas, que aprendem permanentemente, precisam ser permeáveis à mudança e devem entender duas coisas essenciais para prosperar, em qualquer época: seu papel social e o espírito do tempo. Recentemente, temos visto um movimento continuado e (ora mais, ora menos) estruturado de empresas que pautam a diversidade como eixo estratégico de sua atuação. As iniciativas, que ocorrem em todo o mundo e em corporações de diferentes portes, são “imparáveis” – porque justas e necessárias. É fundamental que se reconheçam os obstáculos e discriminações impostos às minorias políticas para ingresso, acolhimento e ascensão no mercado de trabalho (mulheres, PCDs, negros, LGBTQI+, comunidades étnicas e/ou religiosas, refugiados, pessoas neurodiversas, entre outros). Um grupo expressivo, heterogêneo, que acaba compondo, com suas múltiplas cores e corpos, uma espécie de “maioria minorizada”, pegando um conceito emprestado do professor Richard Santos ao falar sobre a questão racial no Brasil.
O impacto do tema da diversidade nas culturas organizacionais é tremendo – não sem que uma reação ressentida (na sociedade e nas redes) também se apresente para disputar a narrativa e transformar este tema caro aos Recursos Humanos e ao Marketing das empresas em mais um campo de polarização. Os recentes movimentos do Magazine Luiza, por exemplo, que pela primeira vez em sua história abriu um processo de trainee exclusivo para pessoas pretas, demonstram que o debate econômico, assim como o político, também não poderá mais ocorrer ignorando as pautas identitárias e as pressões legítimas dos grupos sociais diversos.
Há pesquisas e estudos (alguns recentes, outros nem tanto) que têm apontado de forma sistemática a diversidade como uma vantagem competitiva para as organizações. Entender esse aspecto de forma mais profunda talvez seja a última fronteira que precisa ser vencida para que o debate sobre diversidade saia de vez de uma posição periférica nas organizações, associada quase sempre a uma visão assistencial, para tomar o centro da mesa.
Sucessivas publicações desde o início deste século, como a dos professores George Akerlof e Rachel Kranton, se debruçam sobre a relação entre a formação da identidade dos indivíduos e seus impactos econômicos associados, no consumo e também na produtividade das empresas. Cruzando teorias do campo da psicologia, Akerlof e Kranton defendem que a construção da identidade, sob a perspectiva de uma autodefinição do sujeito, é fundamental para nortear o comportamento humano de forma ampla e que, portanto, escolher ser quem desejamos implica, possivelmente, a decisão econômica mais importante de nossas vidas. Igualmente, os limites que são colocados socialmente para essa livre escolha ou aceitação de uma identidade podem ser determinantes para restringir o bem-estar econômico das pessoas. Trabalhadores acolhidos em sua identidade tendem a perceber de forma diferente as políticas da organização, inclusive salários e benefícios, por exemplo. Também empresas que entendem a importância da diversidade apresentam uma conexão muito maior de seus produtos e serviços com o consumidor, que se sente representado, compreendido, conectado; e, portanto, mais disposto a abrir o bolso.
Grandes investidores do mundo inteiro estão se debruçando sobre três letrinhas na hora de avaliar suas carteiras: a sigla ESG (Environmental, Social and Corporate Governance) aponta para um modelo de governança das empresas que considere as preocupações ambientais, sociais e de gestão para a construção de negócios com futuro. Na pauta de qualquer organização que se pretende competitiva e desejável devem estar a sustentabilidade e as mudanças climáticas, o acolhimento e promoção da diversidade, dos direitos humanos, dos animais e do consumidor, além de uma gestão com níveis internacionais de transparência, conformidade e integridade.
O report “Delivering Through Diversity”, da consultoria McKinsey, revela que companhias com maior diversidade de gênero chegam a ter 21% mais chances de apresentar resultados acima da média do mercado do que empresas com menor diversidade. Considerando a diversidade cultural e étnica, esse número sobe para 33%! Já empresas com menor diversidade de gênero, cultural e étnica têm 29% mais chances de ter um desempenho pior que a média de mercado. Ou seja, investir em diversidade é uma decisão de gestão que costuma PREMIAR as empresas que o fazem com possibilidades maiores de sucesso.
Em cinco pontos, é preciso que os gestores de nossas empresas entendam que:
- há perda de talentos e alocação falha de recursos humanos quando as equipes são menos diversas – estudos mostram que até 40% do crescimento do PIB americano desde a década de 1960 é resultado de um impacto direto da maior diversidade no mercado de trabalho daquele país;
- refletir o conjunto diverso da população brasileira em sua equipe, inclusive e especialmente em cargos de liderança, reúne vivências que são capazes de levar a tomadas de decisão inovadoras, que aumentem vendas, atraiam novos públicos e novos olhares para os problemas;
- construir um ambiente acolhedor às múltiplas identidades implica em maior engajamento da equipe, na criação de vínculos mais profundos entre a empresa e os indivíduos, que passam a considerar outros fatores associados a essa identificação subjetiva, para além da remuneração imediata;
- representar a diversidade humana em sua comunicação com o público alinha a empresa ao espírito do tempo, ao zeitgeist, que revela um forte impacto dos movimentos antirracistas, antilgbtfóbicos, antimachistas, anticapacitistas pelo mundo, moldando novos comportamentos de consumo;
- por fim, a proteção de Direitos Humanos e valorização de ambientes diversos e inclusivos são hoje políticas explícitas das maiores organizações do mundo porque trazem RESULTADO – e tornam os negócios atraentes para investidores.
Na minha experiência como sócio-fundador da Bistrô (agenciabistro.com), uma jovem agência de Porto Alegre, com 13 anos de idade, que conquistou um protagonismo neste tema da diversidade dentro do mercado gaúcho, além da minha vivência como um homem gay, tenho presenciado o poder transformador da inclusão e da representatividade para gerar ambientes corporativos mais produtivos e consumidores mais engajados. O tempo é do diverso, e nada pode ser mais importante para uma organização do que entender profundamente o mundo do qual faz parte.
Maravilhoso! Parabéns, Gabriel!
=)