Se você participa do grupo que costuma fazer críticas ao setor de compras, não importa se as menos vorazes, está na hora de repensar essa posição. Tem sido quase um lugar comum ouvir que os compradores são burocráticos, não valorizam a inovação e a criatividade e só se preocupam com a redução dos custos. Esta percepção, porém, está mudando, especialmente nas organizações alinhadas com as mudanças.
Nessas, a área de compras atua a partir da visão estratégica do negócio e com o compromisso de planejar e promover uma gestão voltada para isso. Tal postura não só valoriza o setor, como faz com que seus profissionais assumam um novo perfil, desenvolvendo capacidades para lidar com as incertezas do mercado e com a efetiva chegada do futuro. São organizações que compreenderam que o processo de transformação alcança todos os indivíduos e departamentos e que uma boa ideia pode surgir em qualquer setor. Por isso, é preciso capacitar os times internos e criar um ambiente propício para a mudança.
A partir desta visão, o setor de compras tem focado nas tecnologias surgidas a partir da transformação digital e que resultam na melhoria dos processos. O foco é sempre a busca pela excelência, o que também se traduz em agilidade, dinamismo, confiabilidade e resultados. Além disso, trabalha na construção de parcerias, que levem em consideração não apenas o aspecto da aquisição de produtos e serviços, mas que também atenda às regras de compliance, prática cada vez mais presente (e necessária) nas empresas, sejam elas tradicionais, sejam elas representantes da nova economia.
No momento em que o setor de compras se compromete com este modelo estratégico, os ganhos vão além dos números, porque a visão do negócio passa a ser global, e não limitada. Esta postura implica em novos questionamentos, não só em relação à forma de capacitar profissionais competentes e criativos, mas na escolha de tecnologias que facilitem o dia a dia dos que trabalham na área, possibilitando que tarefas direcionadas para o estratégico sejam prioritárias. Muitos são os desafios: incorporar uma inovação que efetivamente corresponda ao ritmo imposto pelo negócio; estabelecer relações que permitam o ganho por parte dos parceiros envolvidos; respeitar as regras impostas pela governança a fim de manter um contrato sólido; entre outros.
Vivemos um momento de intensa fragmentação na indústria criativa e, a partir disto, temos o surgimento de novos fornecedores especialistas, propondo caminhos únicos para os clientes. Muitos profissionais deixam seus empregos para empreender. Neste contexto, a responsabilidade de procurement para identificar esta nova leva de fornecedores passa a ser ainda maior. Além disso, há uma constante pressão do marketing para testar novos modelos e experimentar caminhos alternativos, mas alinhados com a política da empresa.
Dentro de um processo sistêmico, desenvolvido a partir da concepção que a empresa deve ser vista como um todo, e não em departamentos isolados, fica evidente que as metas da área de compras devem ser as mesmas da organização. Procurement, portanto, vai muito além da compra e da despesa. Implica em uma visão 360°, preocupada não só com a aquisição de bens e serviços, mas focada no antes e no depois dessa ação, e sempre comprometida com o negócio da empresa.
Se você faz parte do grupo que ainda vê o setor de compras como antes, fique atento. Mesmo com muitos desafios, esta é uma área que está evoluindo, apropriando-se de novas tecnologias e contribuindo (em alguns casos, liderando) para o processo de transformação das empresas. Está na hora de deixar o preconceito de lado. Precisamos falar (bem) de procurement.
Beto Sirotsky
Co-Founder & COO BPool